terça-feira, 1 de junho de 2010

Resenha: Tendências Linguísticas - Mattoso Câmara

No livro Dispersos, organizado por Carlos Eduardo Falcão Uchôa, encontramos em sua 3ª edição, vinte e sete ensaios realizado pelo grande linguísta brasileiro J. Mattoso Câmara Jr., abrangendo assuntos como a teoria linguística, a língua portuguesa, a estilística e a articulação entre linguística e antropologia. Porém nesta resenha farei referência à língua portuguesa, atendo-me ao capítulo 1, presente na parte II entre as páginas 87 a 95.

O capítulo traz como título: “Erros de escolares como sintomas de tendências linguísticas no português do Rio de Janeiro”, o qual fará referencia aos erros comumente praticados na nossa língua portuguesa segundo uma pesquisa realizada com 62 crianças entre 11 e 13 anos, destacando-se o índice de tendências linguísticas da língua coloquial culta sedimentada no meio familiar, resultando em conclusões de ordem fonética, morfológica e sintática.

No meio fonético os problemas apontados por Mattoso, são: debilidade do acento tônico nas palavras, ausência de átono aberto (crase), anulação da oposição [e] e [i] e entre [o] e [u] (p. ex.: “acustumado”, “sintiu-se”...), nasalização do i- inicial (p. ex.: “inquilíbrio”), ausência de contraste entre [ou] e [o] (p. ex.: “loro” em vez de louro), ultracorreção e vocalização de [l] para [u] (p. ex.: “auto” em vez de alto), ditongação da vogal diante de consonante chiante (p. ex.: “treis” em vez de três), precariedade de [l] e [r] intervocálicos, confusão entre consoante surda e intervocálica e sonora e esvaiamento do –r final.

Na ordem morfológica ocorrem problemas como a incapacidade de usar a contração –mos (p. ex.: “meu avô me deu-o”), o emprego de o, a, os, as mesmo quando o pronome objeto é ao mesmo tempo sujeito de um infinitivo integrante, incompreensão da estrutura do pretérito mais que perfeito e do subjuntivo (p. ex.: “deixa-ra”), e a omissão da forma pronominal em certo tipo de verbos reflexivos.

E por fim na ordem da sintaxe, encontramos: o uso do se integrado na forma verbal (p. ex.: “se ele passa-se”, Vêsse que é...”), impessoalização devido a não concordância do verbo (p. ex.: “... na matagal pastava os bois e cavalos”), passagem do sujeito gramatical a complemento de lugar (p. ex.: “ um bonito pasto aonde tem as vacas e os cavalos”), e tendência de fazer do que um conectivo (p. ex.: “Foi ao pasto que ali encontrou uma vaca”, que = e).

Estes foram os erros apontados por Mattoso, na sua pesquisa que também resultou em outros problemas de ordem da psicologia da linguagem, porém o que ele buscou mostrar foi às tendências coletivas da língua coloquial no Rio de Janeiro.

Joaquim Mattoso Câmara Jr. foi um linguísta brasileiro fundador da Academia Brasileira de Filologia e pioneiro no ensino de linguística, com o seu curso de Linguística Geral. Nasceu em 1904, no Rio de Janeiro, foi formado em Arquitetura e Direito, realizou cursos de especialização no Brasil e no estrangeiro; como também, cursos de especialização em Linguística realizado nos Estados Unidos da América do Norte, ao voltar para o Brasil fez doutorado em Letras Clássicas tornando-se professor.


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